Síndrome metabólica do ovário policístico

Sim, eu sei que não é exatamente este o nome correto, mas acompanhe meu raciocínio um pouquinho.

A síndrome do ovário policístico é muito comum e cotidiana, tão falada e discutida, tão perversa no âmbito da fertilidade feminina e ainda de causas não totalmente elucidadas, até mesmo seus tratamentos e diagnósticos são um tanto quanto complexos ou ainda obscuros. As próprias estatísticas de mulheres são discutíveis, algumas fontes afirmam afetar 5%, outras fontes falam em 10% e ainda algumas falam em 21% da população feminina.

Além de causas hormonais congênitas, que em geral são mais fáceis de identificar na mulher jovem, a sensibilidade a insulina parece estar entre as principais causas, o que facilmente ligamos a tratamentos com medicamentos sensibilizantes a insulina, a metformina, surgindo como principal medicamento para este tratamento, ainda que seja considerado ‘’off-label’’ para tal.

E é muito comum a prescrição da metformina, medicamento o qual pertence a classe das biguanidas, porém nem tudo ocorre conforme pensamos. Muitas pacientes sofrem com complicações gastrointestinais provenientes da própria medicação, seja com dores, ou até mesmo quadros de diarreias, e estes sintomas não desejados acabam muitas vezes afastando a paciente do tratamento, ela acaba não aderindo e isso pode se estender até mesmo para as apresentações de liberação controlada.

Nesses casos específicos surgem opções, como por exemplo o uso transdérmico, em uma dose inferior a prescrita comumente, e sem a necessidade de ingerir capsulas ou comprimidos, aplica-se na pele isenta de pelos e desta maneira é possível evitar os efeitos adversos que afastam as mulheres do tratamento.

Dentro desta mesma linha de tratamento para sensibilidade a insulina, vemos algumas outras alternativas que fogem das biguanidas, é o caso do uso da vitamina B8, comumente conhecida como inositol ou myo-inositol. Já temos vários estudos evidenciando a paridade de efeitos entre as duas linhas de tratamento, e com respostas praticamente idênticas no quesito insulínico, o que é uma boa notícia, uma excelente alternativa para quem desejar fugir do uso comum medicamentoso e buscar uma alternativa em suplementação.

Pois bem, temos uma ideia hoje dos processos que acometem o surgimento da síndrome, temos alguns tratamentos, mas a grande questão é a paciente em si, a sua saúde. Digo isso pois cerca de 73% das pacientes no Brasil apresentam sobrepeso ou obesidade e este é o grande ponto que devemos atentar.

Uma vez que os números de acometidas por tal síndrome parece entrar em uma curva ascendente nos leva a pensar na também cada vez mais forte, ascendente curva de obesas e de mulheres com sobrepeso. Este aspecto que é essencialmente a principal causa do uso de medicamentos sensibilizantes a insulina, nos chama atenção para a saúde como um todo.

Sabemos que esta parte da população, que por exemplo entre os jovens de 18 a 24 anos deu um salto de cerca de 90%  em apenas 1 ano no Brasil, automaticamente nos faz pensar que grande parte das jovens mulheres hoje são candidatas a síndrome do ovário policístico e a pergunta que me faço é: já não se deve pensar em adicionar nas síndromes metabólicas a Síndrome do ovário policístico?

Este pulo na população obesa ou com sobrepeso, não é exclusividade dos mais jovens, podemos observar este comportamento em toda as faixas etárias, o que provavelmente leva ao aumento dos casos quase que de maneira geométrica.

Então além dos tradicionais tratamentos existentes para as mulheres acometidas pela síndrome em questão, devemos redobrar nossos esforços para que a população tenha em consciência de que a sua saúde e a sua possibilidade reprodutiva depende de uma vida saudável, por mais que isto seja um clichê, acredito que nesse caso o clichê passa a ser uma advertência.

Para que possamos tentar reverter este quadro, cada vez mais será necessário uma integração das diversas áreas da saúde, pois a síndrome do ovário policístico, além de atravancar o sonho de uma gravidez e diminuir a qualidade de vida da mulher, seja ela tentante ou não, pode ser sim proveniente de uma saúde desregrada, que esta dentro do âmbito de tratamentos, e com toda a certeza beneficiam a saúde da população como um todo. A própria ansiedade que aflige nossa sociedade hoje em dia pode ser amenizada com este olhar completo e multidisciplinar sobre as pacientes.

E como já falei em um clichê porque não relembrar uma icônica frase do Poeta Romano Juvenal “mens sana in corpore sano”, uma mente sã em um corpo são!             

Entre em contato com nossa equipe da farmácia Bellacqua, estamos sempre abertos a ajudar e trocar experiências e conhecimentos para lhe ajudar!

Sugestões de formulações para tratamento

Referências

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 Batra M, Bhatnager R, Kumar A, et al: Interplay between PCOS and microbiome: The road less travelled. Am J Reprod Immunol 88 (2):e13580, 2022. doi: 10.1111/aji.13580 Epub 2022 May 29.

 Martin KA, Chang RJ, Ehrmann,DA, et al: Evaluation and treatment of hirsutism in premenopausal women: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline. J Clin Endocrinol Metab 93 (4):1105–1120, 2008. doi: 10.1210/jc.2007-2437 Epub 2008 Feb 5.

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Calcaterra V, Rossi V, Massini G, Casini F, Zuccotti G, Fabiano V. Probiotics and Polycystic Ovary Syndrome: A Perspective for Management in Adolescents with Obesity. Nutrients. 2023 Jul 14;15(14):3144. doi: 10.3390/nu15143144. PMID: 37513562; PMCID: PMC10384396.

Witchel SF, Oberfield SE, Peña AS. Polycystic Ovary Syndrome: Pathophysiology, Presentation, and Treatment With Emphasis on Adolescent Girls. J Endocr Soc. 2019 Jun 14;3(8):1545-1573. doi: 10.1210/js.2019-00078. PMID: 31384717; PMCID: PMC6676075.

Silva, Aleide Tavares e. Prevalência de síndrome metabólica em diferentes fenótipos da síndrome dos ovários policísticos em mulheres atendidas em dois hospitais de Pernambuco / Aleide Tavares e Silva. – Recife: o autor, 2017

Escrito pelo farmacêutico José Vicente de Souza